Santé!
Douro em Portugal, a primeira região de vinhos oficialmente demarcada no mundo, ocorrida em 1757, é onde se localiza a Quinta do Crasto, uma vinícola que também tem Brasil em suas influências. Ao alto, região montanhosa, entre as cidades de Régua e Pinhão, numa paisagem belíssima, desenhada por Terraços de Vinhas Velhas, Patamares, Vertical Plants (plantações verticais) e com vista para o rio Douro.
Conversei com Miguel Roquette. Ele é diretor de marketing e exportação da vinícola, junto a seu irmão Tomas Roquette, ambos Douro boys (novos enólogos e viticultores do Douro).
O bisavô deles, Constantino, morou no Brasil no início do século passado e quando voltou ao Douro construiu uma nova casa na Quinta, que data de 1615. O imóvel foi feito ao estilo colonial brasileiro , totalmente avarandado. "Estamos na quarta geração de nossa família com a Quinta."
Miguel Roquette conta que na região famosa pelo vinho do Porto (foritificado), agora fazem sucesso também os vinhos tintos, brancos e rosés. "Há pouco mais de 20 anos eles também vêm se destacando."
Segundo ele, a região Douro DOC sofreu grande renovação. "As adegas adaptaram-se às novas regras mais rígidas de higiene. Houve mudanças radicais nos vinhedos como conhecimento maior da geologia, geografia, micro clima, diversidade de castas, ainda com a compra de novos equipamentos de vinificação e condução da própria adega, enfim, evolução tecnológica".
Um dos exemplos está nas diferenças de vinificação do vinho do Porto com os não fortificados. "No Porto, usa-se aguardente vínica a 77° de álcool, e o risco de infecção numa adega é praticamente nulo. Já para a elaboração de vinhos secos, a situação é bastante diferente. Trabalha-se com bactérias vivas, a fermentação se dá naturalmente e a higiene é fator primordial para um bom vinho final."
Roquette relata que os viticultores espantaram-se com a introdução da poda verde, na qual corta-se três dos cinco cachos de uvas numa planta no vinhedo. Isso para dar mais força aos cachos que sobram. Afinal, a qualidade da uva é mais importante que a quantidade.
"Mudar a cabeça dessa geração de vinhateiros foi um avanço. Começamos em 1994, quando meu tio, proprietário da Herdade do Esporão, no Alentejo, nos ajudou a trazer ao Douro o enólogo australiano David Baverstock." Paralelamente, a conceituada crítica inglesa Jancis Robinson provou o Touriga Nacional 1995 da vinícola . "Ela amou e propagou ao mundo. Até hoje a Inglaterra é nosso principal comprador."
Para manter essa qualidade, de acordo com Roquette, utilizam-se as mais avançadas tecnologias de vinificação, conjugadas com o tradicional método de pisa a pé em lagares.
O solo é de xisto, uma rocha capaz de reter água e calor durante o dia para restituí-los à vinha no período noturno. É perfeito para o desenvolvimento da planta, pois temos inverno intenso e extenso e pouco verão, porém tórrido. Assim cultivamos uvas com muito extrato e sabor."
Os vinhos DOC no Douro começaram a ser produzidos e exportados no começo dos anos noventa. Antes, as Quintas no Douro não podiam comercializar os seus vinhos do Porto e secos, pois não era permitido por lei. Com a entrada de Portugal na União Europeia em 1986 esta lei foi alterada.
Sempre se produziu vinhos brancos, tintos e rosés no Douro mas apenas para consumo no mercado interno.
Os vinhedos no Douro são distintos, foram construídos nas encostas do rio para evitar a erosão. Aliás, foram classificados pela UNESCO como patrimônio mundial.
São os famosos terraços:
Vinhas Velhas - vinhas bastante antigas com mistura de castas, plantadas horizontalmente nas encostas, sem uso de fertilizantes ou pesticidas, sustentáveis.
Patamares: vinhas novas em modernos terraços construídos nas encostas com inclinação de até 70°, com auxílio de equipamentos de terraplanagem e até dinamites, em vista do solo rochoso. São apoiados e separados por montes altos de terra, construídos há cerca de 20, 30 anos atrás.
Vertical Plant ou Plantação vertical: vinhas novas plantadas nas encostas com até 30° de inclinação. São vinhas plantadas em linha vertical perpendicular à encosta. Também conhecida como vinha ao alto, proporciona uma melhor exposição da folhagem da videira. Resultando num fruto com maior extrato e sabor.
As castas tintas predominantes na Quinta do Crasto são: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Franca, Sousão e Vinhas Velhas (vinhas antigas, por volta de 30 a 40 uvas diferentes no mesmo vinhedo).
As castas brancas são: Rabigato, Códega, Viosinho, Gouveio, Roupeiro, Verdelho, entre outras tantas.
Maria Teresa e Vinha da Ponte são vinhedos de uvas autóctones portuguesas, com mais de 100 anos plantados nas íngremes encostas do rio Douro. Seus vinhos do mesmo nome, são premiados mundialmente.
Aliás, Miguel Roquette está muito orgulhoso de um estudo de identidade que vêm desenvolvendo na Vinha Maria Teresa e Vinha da Ponte. Desde 2008, a Quinta do Crasto decidiu iniciar um estudo de investigação para identificar a classificação genética de suas vinhas velhas, plantadas há mais de 100 anos. O objetivo é salvar a fonte genética de todas as vinhas que integram seus terrenos muito antigos. Até agora na Vinha Maria Teresa foram identificadas 45 diferentes variedades de uva, como segue:
Grape varieties | Cor | |
1 | Alicante Bouschet | |
2 | Alvarelhão Tinto | Red |
3 | Bastardo | Red |
4 | Cabernet Sauvignon | Red |
5 | Casculho | Red |
6 | Cornifesto | Red |
7 | Grand Noir | Red |
8 | Malvasia Preta | Red |
9 | Malvasia Rei Preta | Red |
10 | Moreto | Red |
11 | Moscatel de Hamburgo | Red |
12 | Mourisco da Semente | Red |
13 | Mourisco Tinto | Red |
14 | Periquita | Red |
15 | Português Azul | Red |
16 | Preto Martinho | Red |
17 | Rufete | Red |
18 | São Saul | Red |
19 | Sousão | Red |
20 | Tinta Amarela | Red |
21 | Tinta Bairrada | Red |
22 | Tinta Barroca | Red |
23 | Tinta Bastardinha | Red |
24 | Tinta Carvalha | Red |
25 | Tinta da Barca | Red |
26 | Tinta Francisca | Red |
27 | Tinta Malandra | Red |
28 | Tinta Mesquita | Red |
29 | Tinta Pomar | Red |
30 | Tinta Roriz | Red |
31 | Tinto Cão | Red |
32 | Tinto Desconhecido | Red |
33 | Touriga Brasileira | Red |
34 | Touriga Francesa | Red |
35 | Touriga Nacional | Red |
1 | Chasselas | White |
2 | Dedo de Dama | White |
3 | Diagalves | White |
4 | Gouveio | White |
5 | Gouveio Estimado | White |
6 | Malvasia Rei | White |
7 | Rabigato | White |
8 | Síria | White |
1 | Alicante Espanhol | Rosê |
2 | Ferral Roxo | Rosê |
A Quinta do Crasto produz mais de 1 milhão de garrafas ao ano, em 130 hectares, sendo 80% vinhos secos e 20 % vinhos do Porto.
Os vinhos do Crasto são importados pela Qualimpor.
Até a próxima taça.
momentodivino@atribuna.com.br
AGENDA
29/11 - sábado -The Wine School promove Curso de Vinhos - Wine Spirit Education Trust - Nivel 1. Das 9 às 18h, na Enoteca Decanter. Inf. (11) 2737 9212 e (11) 99680 2469 ou claudia@thewineschool.com.br
PROVEI E INDICO
Crasto Douro Branco 2013
Uva: Gouveio, Viosinho e Rabigato
Cor: amarelo palha, reflexos verdeais, brilhante.
Nariz: frutas cítricas e doces, como lima e pêssego, toque mineral e floral.
Boca: boca igual ao nariz. 12°GL álcool equilibram acidez e corpo. Seco, fresco, elegante, persistente e intenso.
R$ 69,90 à R$ 75,90
PROVEI E INDICO
Crasto Superior Tinto 2011
Uva: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Souzão e Vinha Velha.
Cor: rubi violáceo intenso
Nariz: frutas vermelhas, toque floral, baunilha.
Boca: seco com acidez envolvente. Show de frutas silvestres com especiarias. Persistente com taninos macios e equilibram 14,75° GL álcool
R$ 99,90 à R$ 121,00
PROVEI E INDICO
Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas 2011
Uva: Vinhas antigas com 70 anos em torno de 30 tipos de castas
Cor: rubi intenso
Nariz: cereja, framboesa, morango num mix de frutas, flores, chocolate e especiarias. Intenso
Boca: seco, fresco, fruas intensas, mineral, taninos macios e persistência absoluta. Elegante e envolvente nos seus 14,5°GL álcool. Equilibradíssimo.
R$ 269,00 à R$ 289,00
Importados pela Qualimpor http://www.qualimpor.com.br são vendidos no Marcelo Laticínios, Empório Villa Borghese, Empório Sta. Marta, Empório Maria Luisa e Porãozinho