DIAS DE VINHOS E ROSAS
Depoimentos de um recém-chegado ao mundo da enofilia
sobre a fundação da Confraria dos 12, em Santos
Muitos se arvoram em criticar os apreciadores do vinho, como se apenas estivessem preocupados com aparências, com rótulos, ou em "surfar na última moda". Há quem, inclusive, perca tempo em nos criticar asperamente, e foi até mesmo criado o epíteto "enochato" para rotular negativamente aqueles que desfrutamos seus prazeres.
Eu discordo, modestamente. Não é a experiência que eu tenho.
Como sempre gostei de vinho, ainda que sem nenhum conhecimento ou profundidade, e precisando de um hobby para minimizar a azáfama dessa vida contemporânea, do mundo on-line 24 horas, achei que era oportuno dedicar alguns momentos de minha semana para conhecer um pouco mais dos sabores e da cultura desse néctar dos deuses. E, aos poucos, não só o gérmen da curiosidade se desenvolveu. Percebi que, a cada noite que nos reuníamos para trocar observações, não era apenas o conhecimento sobre essa arte que crescia, mas os vínculos entre os convivas que se fortaleciam e se aprofundavam.
Passados alguns meses frequentando a Enoteca Decanter com assiduidade quase religiosa, floresceu naturalmente a iniciativa de fundar uma Confraria, para que esses vínculos não se perdessem. A primeira dificuldade dos confrades foi batizá-la, e para isso veio a inspirada sugestão - cuja autoria se perdeu entre as brumas etílicas - de Confraria dos 12, porque cada garrafa serviria doze confrades, na degustação. A sugestão foi acatada, mais até pela mitologia no número doze (os doze deuses no Olimpo, os doze signos do zodíaco) do que pelo significado racional. O número doze tornou-se quase um fetiche, na verdade: não me lembro de, uma única vez, termos sido exatamente doze...