Santé! Imagine degustar um vinho brasileiro produzido por uma mulher, elaborado com os métodos ancestrais da Geórgia. Essa é a proposta da Lorangi Marani, produção de vinhos da socióloga e sommelière Lorena Ferraz sediada em Goiás, no Planalto Central. Eu pude provar e comprovar a alta qualidade do vinho elaborado com tal técnica e memória histórica.
Berço do vinho
A Geórgia é o país proclamado como o berço do vinho. Pesquisas arqueológicas atestam que o vinho surgiu há oito mil anos na Eurásia, entre as montanhas do Cáucaso, junto ao Mar Negro, exatamente na Geórgia, onde havia fragmentos de ânforas de barro com sementes de uvas e vestígios de ácido tartárico.
O país conta com mais de 500 variedades autóctones, onde se destacam a tinta Saperavi e a branca Rkatsiteli. O processo ancestral consiste em fermentar as uvas em grandes ânforas de barro, os qvevris, enterrados no solo até o pescoço e selados por argila ou cera de abelha. É uma forma totalmente natural de vinificação, onde os cachos inteiros são fermentados sem qualquer aditivo ou conservantes. É inclusive o método de elaboração do vinho laranja, já descrito aqui na coluna, no qual uvas brancas são vinificadas com as cascas, como nos vinhos tintos.
Lorangi Marani
A partir desse método ancestral, Lorena Ferraz iniciou a Lorangi Marani em seu sítio em Goiás em 2019, por paixão e curiosidade, já que o destino colocou um georgiano em seu caminho, seu companheiro de vida.
O nome Lorangi homenageia o vinho laranja, símbolo da Geórgia, e inclui as iniciais do casal, "L" e "G", em uma nota mais pessoal e romântica. Já Marani é o nome que se dá às adegas na Geórgia, com suas ânforas qvevris enterradas, de estilo rústico e peculiar.
Quanto ao método tradicional georgiano, Lorena disse à esta coluna que é desafiador aplicá-lo por causa da condição climática no Planalto Central, mas ela segue todo o ritual e o procedimental georgiano. Ela afirmou que além da técnica tem muita mística e um valor simbólico e espiritual agregado. “É quase como uma licença divina”, contou Lorena.
Lorangi Syrah é o primeiro vinho produzido pela vinícola. É um Syrah livre de sulfitos, resultante da ação da natureza, em que foram controladas as condições de assepsia, temperatura e acondicionamento. Um vinho naturalmente trabalhado com as leveduras selvagens da uva, fermentado em ânforas exclusivamente encomendadas e ainda, filtrado em seu próprio sólido, por decantação. Pode ser considerado natural, pois é um vinho não padronizado e tratado com o mínimo de intervenção.
Lorena está também desenvolvendo um vinho laranja de uva Moscato, que promete ser o destaque da Lorangi a partir da receita ancestral georgiana.
As uvas vêm do Vale do São Francisco, de agricultor familiar e a Lorangi tem como referência o grau brix (doçura) e a sanidade final do produto. Não trabalham com nenhum selo, como orgânico, natural ou com certificação, uma vez que, neste primeiro momento, não tem pretensão de classificação.
A Lorangi se lança com uma microprodução inicial, e muito se espera de uma vinícola que no primeiro vinho já apresenta toda a complexidade que a natureza pode proporcionar.
Aproveito para reverenciar a iniciativa de Lorena Ferraz neste mês Internacional da Mulher. Parabéns, Lorangi Marani!
Vivas ao vinho brasileiro e até a próxima taça!
PROVEI E INDICO
Lorangi Syrah 2020, BR
Cor: rubi intenso, opaco. Lágrimas lentas colorem as paredes da taça, num movimento lindo!
Nariz: ataque explosão de frutas vermelhas, morango, framboesa, ameixas, algo floral, pimenta, canela, mel, algo terroso, toque resinoso, cacau, complexo.
Boca: seco, acidez perfeita, textura sedosa, corpo e estrutura tânica equilibradas, 13° GL. Todos os aromas se mostram no sabor amplo, até caramelo, toffee e algo de café torrado num final de boca excepcional.
R$ 85,00 direto no instagram: @lorangimarani ou lorangimarani@gmail.com