Santé! Que tal provar um vinho Malbec branco? Ah, você nunca ouviu falar nele? Pois é, honestamente eu também não conhecia.
Afinal, nós, os apreciadores de vinhos, costumamos conhecer e provar bons, ótimos e excelentes Malbecs argentinos tintos. Mas, recentemente, alguns rótulos diferentes de Malbec chamaram a minha atenção e a da Fernanda Lopes, editora do domingo. Resolvemos, então, organizar uma degustação em torno do tema: Malbec branco, ou seja, Malbec vinificado em branco.
Convidamos para a ocasião enoamigos, amantes de vinho, e fizemos uma degustação para apreciação técnicade quatro Malbecs brancos. Para a elaboração desse rótulo, no estilo blanc de noir, aquele vinho que fica branco, mas a uva é tinta, é necessário se fazer uma maceração curta com as cascas da uva, uma vez que a Malbec tem a cor bastante intensa. E o tom advém da casca.
A vinificação é toda feita como se fosse um vinho branco mesmo,macerandoas cascas rapidamente e vinificando sem elas, pois nelas estão as antocianinas, os pigmentos da cor. Muitas vezes,isso podeaté resultar em um vinho com aparência quase rosé.
E o interessante é que obtemos, assim, um rótulo bem diferente: no nariz, parece um branco ou rosé, com aromas leves de frutas brancas e vermelhas, mas, na boca, é um branco, uma experiência bastante singular!
A gente se reuniu na Bodeguita da Vila, wine bar e bistrô em Santos, local muito acolhedor, sob o comando do proprietário, Léo, e equipe superatenciosa, que nos proporcionaram uma acolhida impecável. Agradeço ao Marcelo G. Figueiras, do Laticínio Marcelo Imports, que ofereceu o vinho Danzón Blanc de Malbec, e à Bodeguita, na pessoa do Léo, que forneceu o Vicentin Blanc de Malbec. Os outros rótulos foram comprados on-line.
Os vinhos são realmente bem diferentes. No geral, têm cor clara (um amarelo pálido chegando a um rosado leve); os aromas também são delicados, com frutas brancas cítricas, toques de frutas vermelhas, flores e certa mineralidade; todos com acidez baixa paramédia, toque adocicado, mas ainda seco; alguns de corpoleve paramédio, com exceção do que tem passagem em madeira, esse já mais volumoso.
Portanto, vinhos muito agradáveis para pratos leves em geral, principalmente comida japonesa, peixes, massas sem molho. Uma surpresa peculiar.
A Malbec já foi um enigma, segundo Jancis Robinson e Hugh Johnson contam no livro Atlas Mundial do Vinho. Desde sua descoberta, ficou conhecida por diversos nomes, entre eles Auxerrois, Côt Noir e Pressac. A partir de 1780, começou a aparecer graças ao viticultor russo-húngaro Malbeck, daí o seu nome. Durante muito tempo, foi usada apenas para mesclas em todo o sudoeste da França, incluindo Bordeaux, pois é uma das seis uvas permitidas para os famosos cortes bordaleses (Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec, Petit Verdot e Carménère).
Seria dominante só em Cahors, de onde é originária e resultava em rótulos mais rústicos, os vins noirs (vinhos muito escuros). Atualmente, os Malbecs da cidade francesa de Cahors recebem mais atenção dos produtores e tendem a ser menos austeros, mais elegantes.
A Malbec é uma uva tinta de bagos grandes, polpa suculenta, maturação precoce e ficou mundialmente famosa na Argentina, onde se adaptou perfeitamente a partir de 1852, levada pelo agrônomo francês Michel Aimé Pouget. Isso aconteceu graças ao terroir de Mendoza, detentor das qualidades essenciais para o cultivo e maturação: tem altitude, amplitude térmica alta, subsolos pedregosos cobertos de argila calcária, incidência solar e baixa pluviosidade – razão de a Malbec se tornar emblemática da Argentina. Vinhos gloriosamente aveludados, concentrados e vivazes, com perfeita acidez, alto teor alcoólico e extrato. Principalmente da próspera região de Valle de Uco e de Luján de Cuyo, em Mendoza.
PROVEI E INDICO
Don Cristobal Danzón Blanc de Malbec 2021, Luján de Cuyo, Mendoza, AR
Uva: 100% Malbec
Cor: amarelo claro brilhante (13º GL)
Nariz: aromas que lembram notas de groselha e morangos, fundidas com delicadas nuances cítricas, como toranja. Um cítrico adocicado.
Boca: seco, acidez baixa, leve, revela sensações frutadas, álcool moderado, certo amargor no final.
Preço: R$ 59,00 no Laticínio Marcelo Imports
Trivento White Malbec Reserve 2021, Luján de Cuyo, Mendoza, AR
Na mídia, foi anunciado como o primeiro vinho Malbec branco produzido no mundo
Uva: 100% Malbec
Cor: amarelo rosado brilhante (12˚GL)
Nariz: discreta leveza de frutas vermelhas, maçã verde e um toque floral suave.
Boca: seco, equilibrado entre sabor e acidez natural, apresentando taninos doces e corpo médio.
Preço: R$ 59,99 no Pão de Açúcar
Colosso Wines Indomable Blanc Malbec 2021, Valle de Uco, Mendoza, AR
Uva: 100% Malbec (70% de El Peral Tupungato e 30% de Vista Flores – Tunuyán/ 1.100 m de altitude). Essas áreas foram selecionadas por proporcionar uma boa maturação dos taninos emanter o frescor em boca.
Cor: amarelo brilhante (13,2˚GL)
Nariz: notas de violetas e sutil aroma de frutas vermelhas.
Preço: R$ 89,00 no Elite Vinho (www.elitevinho.com.br)
Vicentin Blanc de Malbec 2021, Valle de Uco, Mendoza, AR
Uva: Malbec de La Consulta e Vista Flores – Tunuyán, no Valle de Uco, com 6 meses em barricas de carvalho americano de 2o uso.
Cor: rosa tênue (13,2˚ GL)
Nariz: notas de violetas e frutas como amora e morango, madeira, canela e cravo.
Boca: seco, estruturado, encorpado, untuoso, longa persistência, taninos aparentes, certo amargor agradável.
Preço: R$ 189,00 na Bodeguita da Vila