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A Tribuna - Entrevista Cláudia Garcia de Oliveira Caderno Boa Mesa, em 20 de abril de 2012, por Fernanda Lopes
O vinho pode modificar nossas vidas
ARTIGOS 20-04-2012
Mulheres na adega... Foi-se o tempo em que as enotecas eram dominadas por homens. Hoje, a visão feminina está presente da vinícola à taça.

Como você entrou no mundo dos vinhos?
Fiz uma viagem ao sul do país com meus pais e meu irmão. Estivemos em Caxias do Sul, onde se comemora a festa da uva até hoje. Visitamos diversos parreirais e passei alguns momentos muito marcantes. Talvez tenha sido este o ponto de partida para a minha imersão no mundo do vinho. Hoje, nas visitas que realizo às vinícolas mundo afora, me vejo sempre relembrando essas memórias. Tenho um prazer enorme em apreciar, degustar e compartilhar o vinho. Quando surgiu a oportunidade de me aprofundar nessa arte, não hesitei.

Qual seu estilo de vinho preferido?
É o tinto seco da casta Syrah. Trata-se de uma uva nobre e longeva, vedete da região Norte do Rhône (França). Aprecio muito um Chapoutier-Côte Rôtie Les Bécasses (Mistral) e um Jean-Luc Colombo-Crozes-Hermitage Les Fées Brunes (Decanter). Mas sou eclética e apaixonada pela variedade que o mundo do vinho proporciona. Claro que a ocasião para a escolha do melhor vinho é importante. No restaurante, por exemplo, escolho o vinho de acordo comoprato. Já em casa, primeiro abro minha adega, escolho o vinho e depois penso no que vou cozinhar. Ao mesmo tempo queria ressaltar que preferência no mundo do vinho é muito relativa. "Vinhos: anos de litragem", muitos enófilos dizem isso, nada mais verdadeiro. Cada um vai perfazendo seu repertório, começando com vinhos mais simples, passando à ousadia de novos rótulos, uvas e procedências diversas. Assimo universo se amplia. O vinho tem o poder de modificar as nossas vidas, agregando conhecimento, amigos e nos tornando mais sensíveis aos cheiros, aromas e
sabores da vida.

Sofreu preconceito por ser mulher?
Em todas as profissões há concorrência. No mundo do vinho também ocorre. Imagine uma mulher, recém iniciada numa área profissional novíssima, onde a maioria dos profissionais é homem. Simples não é, mas impossível também não. Eu sempre tive total e irrestrito apoio familiar, o que é super importante, pois o preconceito dentro de casa pode chegar a minar toda uma carreira. Conquistei o meu espaço. O preconceito velado até existe, sim, invariavelmente, mas temos que passar por cima, fingir que não é com a gente, pois quando trabalhamos com honestidade e amor, as portas só se abrem. Claro que não cai do céu, temos que bater à porta, mostrar que
existimos, que estamos preparadas, que temos bagagem, repertório e coragem. Eu não imaginaria que chegaria a trabalhar na área já que tudo não passava de um hobby, até que um amigo me convidou pra iniciar um curso aqui em Santos e deu certo.


Esse preconceito diminuiu?
Veja, inúmeras são as enólogas famosas, como Susana Balbo (AR), Filipa Pato, Dorina Lindeman
e Luisa Amorim (PT), Paula Cárdenas Sáez (CL), Lalou Bize-Leroy (FR), Donatella Cinelli Colombini e Noêmia D'Amico (IT), sem falar das brasileiras Rosana Wagner, Monica Rosseti, entre outras tantas. Grandes mulheres também  atuam na área de divulgação e conhecimento dos vinhos. Jancis Robinson, por exemlo, é a crítica inglesa mais respeitada do mundo. Tornouse uma das maiores autoridades de vinho quando alcançou o título de master of wine pela Wine Spirit Education Trust (UK) em 1984. Ainda, destaco a querida Jane Pizzato, diretora comercial da vinícola Pizzato e Suzana Barelli, redatora chefe da revista Menu. E assim as mulheres vão ascendendo cada vez mais nesse mundo onde os homens sempre reinaram.

Você acha que existem tipos de vinhos mais adequados a mulheres?
Não. Acredito que exista sim gosto individual. Cada pessoa tem sua preferência, independentemente de gênero. O universo do vinho é amplo e complexo, e gosto é gosto. O importante é não cair no clichê. Costumo dizer que há vinhos pra todos os gostos e bolsos. As mulheres que participam dos meus cursos estão supercuriosas, demonstrando que conhecem apenas vinhos mais delicados. E, quando apresentadas à diversidade de vinhos, acabam se apaixonando por vários tipos e estilos que não conheciam. Posso afirmar que à medida que você vai ampliando seu próprio repertório, consequentemente seu gosto e prazer também aumentam. Sua análise sensorial vai se aprimorando. De fato é questão de gosto e evolução.

O mercado de produtos em geral está de olho na mulher, que comprovadamente toma as decisões de consumo. O de vinhos também?
Sim. As mulheres influenciam diretamente o poder de compra. A escolha é, em última análise, da mulher. No mercado do vinho elas, muitas vezes, poupam mais na hora de comprar do que os homens. Estão mais atentas à relação custo/prazer do que os homens. E como se interessam muito pelo mundo do vinho, as mulheres estão cada vez mais sabendo escolher o melhor vinho. Isso porque nem sempre o mais caro é o melhor, e a mulher que entende de vinhosaberá discernir aose deparar com a prateleira.

O que você indica para quem quer começar?
Afirmo de forma enfática que o vinho deve ser respeitado. Há de se ter parcimônia na arte da degustação. Moderação é princípio básico. No século 16, o então pai da medicina moderna, o suíço Paracelso, afirmava: " o vinho é um alimento, um remédio e um veneno - é apenas uma questão de dose". Vinho deve ser degustado, e quando bebido em reuniões festivas, para cada taça de vinho, recomendo dois copos de água. A água é elemento importantíssimo à mesa. O álcool não se reduz, mas atenua alguns males, como a desidratação, a ressaca e a dor de cabeça. E, para quem vai começar, recomendo um vinho tinto de corpo médio, estrutura média, jovem.

Abaixo algumas indicações publicadas no complemento da reportagem:
Indicações da sommelier Claudia
para quem quer começar
Tintos
Calicanto da Viña El Principal (Decanter),
Caprili Rosso de Montalcino (Decanter)
Ramirana Grand Reserva Syrah/Carmenére 2007
Ventisqueiro (Adega Petit Verdot)
Quara (Adega Petit Verdot)
Clos Floridene (Casa Flora)
Fonte das Moças (Adega Alentejana)
Brancos
Viña Aquitania - Sol de Sol (Zahil)
Château Reynon, Sauvignon Blanc, de Bordeaux (Casa Flora)


ABAIXO a entrevista para Fernanda Lopes na íntegra: 

Caderno Boa Mesa

Jornalista: Fernanda ...

Entrevistada: Cláudia ...


Como você entrou no mundo dos vinhos?

Bem, acredito que nada aconteça por acaso. Quando era bem menina fiz uma viagem ao sul do país com meus pais e meu irmão. Estivemos em Caxias do Sul, onde se comemora a festa da uva até hoje. Visitamos diversos parreirais e passei alguns momentos muito marcantes, correndo pelos vinhedos com meu irmão. Foi realmente mágico. Também colhemos e comemos muitas uvas diretamente das vinhas. Talvez tenha sido este o ponto de partida para a minha imersão no mundo do vinho. Hoje, nas visitas que realizo às vinícolas e seus vinhedos mundo afora, me vejo sempre relembrando essas memórias encantadoras. O engraçado é que o vinho esteve sempre à mesa da minha família. Meu avô espanhol fazia uma sangria bem fraquinha com pouco vinho e muita soda limonada que a criançada adorava! Confesso que jamais tive tanta intimidade com outra bebida além do vinho. Tenho um prazer enorme em apreciar, degustar e compartilhar o vinho. Quando surgiu a oportunidade de me aprofundar nessa arte, não hesitei.


Qual seu estilo de vinho preferido?

É o tinto seco da casta syrah. Trata-se de uma uva nobre e longeva, vedete da região Norte do Rhône (Fr).  Aprecio muito um Chapoutier-Côte Rôtie Les Bécasses (Mistral) e um Jean-Luc Colombo-Crozes-Hermitage Les Fées Brunes (Decanter). Entretanto, hoje essa uva se desenvolve principalmente nos países do novo mundo, como Austrália, Estados Unidos, África do Sul, Chile e Argentina.

Eu já apreciava a syrah, mas quando tive a oportunidade de degustar um "Grange 1998" (vinho australiano, produtor Penfolds) na companhia do meu eterno mestre Manoel Beato, ah! Eu me rendi aos fascínios da shiraz... Aquele Grange 98 se mostrou um vinho elegante de cor atijolada intensa. Seus aromas se revelavam após uma hora no decanter e, com o passar dos minutos, frutas em compota e muito chocolate perfumaram as taças, um vinho maduro de personalidade inquietante...

Mas eu sou super eclética e apaixonada pela variedade que o mundo do vinho proporciona. Aprecio um bom vinho branco do Vale do Loire (Fr), como o Pouilly-Fume Mademoiselle de T (Decanter) um aromático e refrescante, equilibrado da uva sauvignon blanc. Sempre recomendo degustar os vinhos brancos a 9°C, principalmente com o nosso clima quente. Também adoro os Alsacianos da Maison Hugel & Fils ou Trimbach (Zahil) ambos da casta gerwürztraminer. Vinhos perfeitos!

Isso sem falar nos tintos evidentes da uva mais conhecida sempre, a cabernet sauvignon. Sugiro alguns argentinos como o Luigi Bosca (Decanter), Rutini (Zahil), Pulenta Estate (Gran Cru)  e chilenos como o estupendo De Martino Single Vineyard (Decanter), Santa Rita (Gran Cru), o perfeito Domus Áurea da Viña Quebrada de Macul (Casa do Porto) que estão em todas as prateleiras.

Claro que a ocasião para a escolha do melhor vinho é importante. No restaurante, por exemplo, escolho o vinho de acordo com o prato; já em casa, primeiro abro minha adega, escolho o vinho e depois penso no que vou cozinhar, atividade que, aliás, é um deleite pra mim quando estamos em família.

Ao mesmo tempo queria ressaltar que preferência no mundo do vinho é muito relativa.  "Vinhos: anos de litragem", muitos enófilos dizem isso, nada mais verdadeiro. Cada um vai perfazendo seu repertório, começando com vinhos mais simples, passando à ousadia de novos rótulos, uvas e procedências diversas. Assim o universo se amplia. Novas descobertas, novos encantamentos. O mundo do vinho é muito rico e complexo, sem contar que é repleto de histórias de homes que se dedicam a fazer o melhor e depois engarrafá-lo. O vinho tem o poder de modificar as nossas vidas, agregando conhecimento, amigos e nos tornando mais sensíveis aos cheiros, aromas e sabores da vida!

E, com bem disse Platão, filósofo grego, que viveu na era de 428/347 a.C.: "Moderadamente bebido, o vinho é um medicamento que rejuvenesce os velhos, cura os enfermos e enriquece os pobres."


Sofreu preconceito por ser mulher?

Em todas as profissões há concorrência. No mundo do vinho também ocorre. Imagine uma mulher, recém iniciada numa área profissional novíssima, onde a maioria dos profissionais é homem...simples não é, mas impossível também não!

Eu sempre tive total e irrestrito apoio familiar, o que é super importante, pois o preconceito dentro de casa pode chegar a minar toda uma carreira. Iniciei meus cursos em São Paulo com garra e muita vontade de aprender mais. Comecei a participar de degustações e eventos há muitos anos e sempre fui bem recebida. Mas também conquistei o meu espaço.

O preconceito velado até existe, sim, invariavelmente, mas temos que passar por cima, fingir que não é com a gente, pois quando trabalhamos com honestidade, integridade e amor, as portas só se abrem. Claro que não cai do céu, temos que bater à porta, mostrar que existimos, que estamos preparadas, que temos bagagem, repertório e coragem.

Eu não imaginaria que chegaria a trabalhar na área já que tudo não passava de um hobby, até que um amigo me convidou pra iniciar um curso aqui em Santos e deu certo, e aqui estou, contando pra você.

Há grandes mulheres no universo do vinho. Mulheres fortes, desbravadoras e conquistadoras, como Barbe-Nicole Ponsardin (1777-1866) a Veuve Clicquot, que em 1798, início do séc. XIX, inovou criando o processo de purificação do espumante usado até hoje, transformando um champagne opaco e turvo na bebiba límpida e brilhante de hoje. A também viúva Lily Bollinger em 1961 fez de seu champagne o mais famoso e requisitado da época, graças à sua perspicácia, dinamismo e tino publicitário. Ela costumava dizer: "Só tomo champagne quando estou feliz, ou quando estou triste. Às vezes bebo quando estou só, mas quando tenho companhia considero obrigatório. Eu me distraio com champagne quando estou sem fome, e bebo se estou faminta. Fora isso nem toco nele, a menos que esteja com sede". É um império até hoje.

Certamente que preconceitos existiram e co-existem até hoje, em qualquer profissão, mas esmurecer causa mais problemas do que lutar pra se destacar.


Hoje esse preconceito diminuiu?

Veja, inúmeras são as enólogas famosas, como Susana Balbo (AR), Filipa Pato, Dorina Lindeman e Luisa Amorim (PT), Paula Cárdenas Sáez (CL), Lalou Bize-Leroy (FR), Donatella Cinelli Colombini e Noêmia D'Amico (IT), sem falar das brasileiras Rosana Wagner - Cordilheira de Sant"Anna - (RS), Monica Rosseti - Lidio Carraro (RS), entre outras tantas.

Grandes mulheres também atuam na área de divulgação e conhecimento dos vinhos. Jancis Robinson, por exemlo, é a crítica inglesa mais respeitada do mundo. Tornou-se uma das maiores autoridades de vinho quando alcançou o título de master of wine pela Wine Spirit Education Trust (UK) em 1984. Ainda, destaco a querida Jane Pizzato, diretora comercial da vinícola Pizzato e Suzana Barelli, jornalista, redatora chefe da revista enogastronômica Menu. E assim as mulheres vão ascendendo cada vez mais nesse mundo onde os homens sempre reinaram.

Resta claro que as mulheres têm muito mais sensibilidade olfativa e gustativa. Por conta de sua delicadeza e precisão as mulheres fazem a triagem das uvas que serão vinificadas na maioria das vinícolas, onde são figuras imprescindíveis. Hoje os cursos de sommeliers e gastronomia estão lotados de mulheres, que se dedicam muito mais que os homens. Eles sempre tiveram o poder de adquirir os vinhos mais caros nas prateleiras, enquanto que as mulheres hoje, com seu interesse crescente, são detalhistas e sabem escolher um bom vinho a um preço razoável!

Além disso, os grandes restaurantes admitem cada vez mais sommelieres pra atender seu público. Parafraseando Jancis Robinson, "o vinho está na moda, é símbolo de status, cultura e sofisticação".  A cada dia mais e mais pessoas se interessam por esse universo extenso, intenso de sensações e descobertas. Para nós que vivemos em um Brasil tropical, sem cultura de vinho na maioria das nossas regiões, o número de mulheres que se encantam com essa bebida, está aumentando a cada dia. E você me questiona, o preconceito diminuiu? Quem quer realizar algo corre atrás, não há idade, não há preconceito, só certeza! Aprendi muito nas minhas aulas de dinâmica com o querido mestre Luiz Alca.


Vc acha que existem tipos de vinhos mais adequados a mulheres?

Não. Acredito que exista sim "gosto individual". Cada pessoa tem sua preferência, independentemente de gênero. Veja só, um vinho mais encorpado, como um Bordeaux, pode agradar a uma certa mulher e um vinho menos encorpado, como um Bourgogne, a um certo homem. E daí? Qual o problema? Ele será menos homem por isso ou ela menos feminina? Claro que não! O inverso também se aplica. Ou seja, a mulher que prefere vinhos mais delicados, não necessariamente será mais feminina por isso e, ao mesmo tempo, o homem que prefere vinhos mais encorpados e tânicos não necessariamente estará provando sua masculinidade em uma taça. O universo do vinho é por demais amplo e complexo, e gosto é gosto. O importante é não cair no clichê.

Costumo dizer que há vinhos pra todos os gostos e "bolsos". As mulheres realmente têm uma tendência a apreciar vinhos espumantes, vinhos brancos, que podem parecer mais leves e também vinhos rosés, até por sua bela cor. E, logicamente os vinhos tintos, aliás, este é sem dúvida o mais apreciado por todos. Você provavelmente já ouviu o absurdo de que vinhos brancos são próprios para mulheres e tintos para homens! Ah! Não dá pra acreditar. Afinal, tem coisa mais linda do que homens loucos por vinhos brancos?

Ultimamente venho percebendo que as mulheres que vêm participar dos meus cursos estão super curiosas, demonstrando que conhecem apenas vinhos mais "delicados", eu diria. Estas, quando apresentadas à diversidade de vinhos, acabam se apaixonando por vários tipos e estilos que não conheciam.

Posso afirmar que à medida que você vai conhecendo, degustando e ampliando seu próprio repertório, consequentemente seu gosto e prazer também aumentam. Sua preferência vai mudando, sua análise sensorial se aprimorando. De fato é questão de gosto e evolução.


O mercado de carros e produtos em geral está de olho na mulher cada vez mais presente no mercado de trabalho e comprovadamente quem toma as decisões de consumo. O mercado de vinhos também?

Sim. As mulheres influenciam diretamente o poder de compra. A escolha é, em última análise, da mulher.  No mercado do vinho as mulheres, muitas vezes, poupam mais na hora de comprar do que os homens. Elas estão mais atentas à relação custo/prazer do que os homens. E como se interessam muito pelo mundo do vinho, as mulheres estão cada vez mais sabendo escolher o melhor vinho. Isso porque nem sempre o vinho mais caro é o melhor, e a mulher que entende de vinho saberá discernir ao se deparar com a prateleira. Nas minhas palestras, o usual é o questionamento feminino, as mulheres não se inibem, indagam a cada dúvida, e, não deixo de dar as dicas de melhor aproveitamento para uma boa "compra".  Afinal "compartilhar" é o tema da hora hoje. Pra isso estão aí as redes sociais, que nada mais são do que um imenso universo de marketing, tanto pessoal e emocional, quanto material.

O mundo feminino, não feminista, se projeta também de acordo com o êxito de grandes empresas. Algumas empresas, como a Avon por exemplo, já provaram várias formas de tomada de decisão, inclusive a de 100% de mulheres no comando, com êxito.

Grandes mulheres como Ângela Merkel na Alemanha, Cristina Kirchner na Argentina e Dilma Rousseff à frente de nosso país, são exemplos da nossa projeção crescente no cenário internacional - e esta é uma construção política, social e histórica de direitos conquistados a ferro e fogo.

Participo de algumas confrarias mistas e também só femininas. Isso demonstra o quão antenadas as mulheres estão hoje. Algumas confreiras fazem questão de participar apenas de grupos mistos para que suas análises e opiniões sejam compartilhadas com os confrades. Já foi o  tempo dos "symposions", que pra quem não sabe, na era cristã era o nome que os gregos adotavam para suas reuniões noturnas. Estes, discutiam assuntos relativos a sociedade acompanhados de bons vinhos, onde se proibia a entrada de mulheres.


Que vinhos vc indica para quem quer começar?


Afirmo de forma enfática que o vinho deve ser respeitado. Primeiramente advirto que há de se

ter parcimônia na arte da degustação. Moderação é princípio básico. No século XVI, o então pai da medicina moderna, o suíço Paracelso, afirmava: " o vinho é um alimento, um remédio e um veneno - é apenas uma questão de dose". A lei seca está aí pra todos, ou seja, beber é uma responsabilidade para consigo mesmo. Vinho deve ser degustado, e quando bebido em reuniões festivas, para cada taça de vinho, recomendo dois copos de água. A água é elemento importantíssimo à mesa. O álcool não se reduz, mas atenua alguns males, como a desidratação, a ressaca e a dor de cabeça. O ideal é beber pouco e desfrutar muito. E, pra quem vai começar, recomendo um vinho tinto de corpo médio, estrutura média, jovem. Pode ser nacional, chileno, argentino, italiano, francês, espanhol, português... Indico alguns, como: Calicanto da Viña El Principal (CL), Caprili Rosso de Montalcino (ambos Decanter) , o chileno Ramirana Grand Reserva Syrah/Carmenére 2007, Ventisqueiro, e o argentino Quara (ambos da Adega Petit Verdot), o alentejano Fonte das Moças (PT) da Adega Alentejana.,  Também recomendo a casta tannat, emblemática do Uruguai, que faz muito bem à saúde. A cepa tannat é propícia para evitar doenças do coração, pois contém alta concentração de taninos, entenda-se polifenóis. Está comprovado cientificamente que o vinho trás benefícios à saúde. Consumido moderadamente sempre, o vinho, por ter baixa proporção alcoólica e por ser riquíssimo em polifenóis, ajuda a prevenir diversas doenças comuns às mulheres e aos homens. Cancer de Ovário e de Mama, Alzeimer, Osteosporose, sem contar que aumenta o desejo sexual, o que dá à mulher mais segurança com seu parceiro. No campo masculino ajuda a prevenir o câncer de próstata, ataques cardíacos e derrame cerebral. Só citei vinhos tintos, visto que na vinificação dos tintos as cascas das uvas participam da fermentação  efetivamente, o que não ocorre com as uvas brancas. Isso pode parecer enfadonho, entretanto são conhecimentos técnicos que desmistifico nas minhas palestras e cursos.

Mas como deixar de falar da uva branca chardonnay, emblemática da Bourgogne (FR), cultivada em todas as regiões vinícolas, são muitos exemplos, e, para quem não conhece recomendo o chileno Viña Aquitania - Sol de Sol (Zahil), ótimo.

Um  vinho fácil, elegante  e agradável, principalmente aqui no litoral é o francês Château Reynon, da cepa sauvignon blanc, de Bordeaux, elaborado pelo famoso Denis Dubourdieu, que, aliás, também produz o Clos Floridene, um tinto bordalês muito apreciado (Casa Flora).

Ainda, muitos iniciantes partem para os espumantes nacionais, vinhos de excelência em nosso país, que vem recebendo premiações em diversos concursos internacionais, demonstrando que temos condições para elaborar bons vinhos. Os vinhos finos nacionais estão em fase de aprimoramento. É um mercado novo que merece todo o nosso respeito por sua persistência, capacidade e competência. Porém os preços praticados são muito altos para o bolso dos brasileiros.  Aliás, está em toda a mídia a controversa questão das salvaguardas propostas pelo IBRAVIN (Instituto Brasileiro do Vinho), UVIBRA  (União Brasileira de Vitivinicultura), FECOVINHO (Federação das Cooperativas do Vinho), e SINDIVINHO (Sindicato da Indústria do Vinho do Estado do Rio Grande do Sul),  ensejando medidas protecionistas para os produtores de vinho nacional. Trata-se de uma medida legal, porém desajustada, que causará o aumento do preço dos vinhos importados, sendo que já são praticados valores altíssimos, principalmente pelas tarifas impostas pelo governo. Um vinho europeu custa aqui 3, 4 ou até 5 vezes mais. É lamentável que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior venha sobretaxar os importados que já têm preços exorbitantes. Se a medida for aprovada, diria que vamos retroagir e muito, e, quem vai pagar por esse retrocesso somos nós, os enófilos, amantes do vinho.  Recentemente, visitando a Union des Grands Crus de Bordeaux, questionei vários produtores franceses sobre valores de seus vinhos praticados no mercado brasileiro e nenhum soube me relatar o porquê de valores tão altos.


E pra quem já adora vinhos?

A mescla de ofertas é cada vez maior. Convido o apreciador ousar a degustar os vinhos espanhóis cada vez mais consistentes e voltados para o consumidor das Américas, como também para os vinhos do Sul da França, em franca expansão de qualidade. Além de vinhos espetaculares, como os do Languedoc-Roussillon, das castas mouverdre, syrah e grenache, meus favoritos, ultimamente, bem como os portugueses do Dão, dentre tantos outros europeus. Os italianos do Alto-Adige elaboram verdadeiras raridades da uva pinot noir. O bom degustador é "eclético nato" e não deve ter medo nem preconceito do novo. Assim há também grandes destaques dos vinhos Sul Africanos, Neozelandeses, Australianos, sempre perfeitos, sem contar os vinhos da Califórnia que têm me agradado bastante mesmo. Ah! Não posso deixar de citar os vinhos brancos alemães, tão perfeitos com seus rielings e gerwüztraminers  tão carismáticos. Sem contar os chilenos e argentinos já nossos velhos conhecidos .

Um alerta, não deixe que o vinho suba literalmente à sua cabeça, o jornalista e crítico gastronômico Saul Galvão (1942/2009) sempre dizia: "o vinho foi feito pra dar prazer, os esnobes é que complicam".

Concluo enfatizando que o mundo do vinho é muito rico, complexo e diria infindável, entratanto é capaz de fazer você mergulhar em culturas, histórias e resultados diversos a cada garrafa. Vale inovar, sempre com moderação e humildade.

Tim! Tim! Salut!


Qual a sua formação (um breve currículo)?

Advogada formada pela Faculdade Católica de Direito de Santos/1981

Certified WSET (Wine Spirit Education Trust) nível 3 Advanced/2009, Londres

Certifiée par le Ministère de L'Agriculture Et de La Peche , Sud France, Narbonne,  no C.F.P.P.A (técnica em enologia) maio/junho 2008, França

ABS-SP - cursos: Iniciantes, Países, Champagne, Avançado/2005. Profissional sommelière 2007/2008.

Participa ativamente de alguns grupos de análise de vinhos em Santos e SP.

Ministra cursos de vinhos, palestras, eventos enológicos, treinamento para staf de restaurantes e viagens enogastronômicas.

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contato: claudia@enoamigos.com, tel.: 13 81177999


agenda:

dia 08 de maio: inicia curso básico de vinhos na Enoteca Decanter Santos

dia 16 de maio: inicia ciclo de palestras mensais na Loja de Vinhos Petit Verdot

tema: "Argentina" com degustação às cegas

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