Santé! Uma decepção na indústria do vinho no Brasil. A notícia de trabalho análogo à escravidão de mais de duzentos trabalhadores, relativa aos grandes nomes da vitivinicultura da Serra Gaúcha, escandalizou o país.
Exatamente em Bento Gonçalves, as vinícolas Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi, e talvez outras ainda investigadas, terceirizaram o trabalho de colheita e entrega de suas uvas nas respectivas vinícolas. Ocorre que a empresa Oliveira & Santana, atualmente denominada Fenix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, responsável por esse serviço terceirizado, foi denunciada em situação de flagrante por um dos trabalhadores, que conseguiu escapar do alojamento ou prisão, onde ele e outros eram mantidos e maltratados.
Comida estragada, péssimas condições de higiene, jornada abusiva de trabalho, espancamentos, choques elétricos, spray de pimenta e sabe-se lá mais quanta crueldade, em pleno século 21. Os trabalhadores foram contratados por três meses, na ilusão de receberem em torno de quatro mil reais, no trimestre. Sórdida ilusão mesmo!
Eu me senti péssima, decepcionada e ultrajada com tal notícia uma vez que sou fã do vinho brasileiro, divulgo todos os rótulos que aprecio, todos muito bons rótulos. Entretanto que tristeza! Claro sem generalizar, afinal não são todas as vinícolas que terceirizam, ou que são alheias a esse tipo de contrato de trabalho. Eu já visitei as vinícolas envolvidas inúmeras vezes, inclusive em press trips, ou seja, visitas exclusivas para profissionais da mídia. Evidentemente, quando nós, do setor jornalístico somos recebidos nas vinícolas tudo é especial. O que vemos, e em detalhes, é um primor, senão, quase.
As envolvidas se inocentam, alegam não ter conhecimento dos fatos. Oi? Como é possível não saber do que ocorre na linha de frente, num dos momentos mais importantes do processo de vinificação, que é a própria colheita da uva? Como não têm fiscalização da colheita e entrega das uvas, ato tão importante? Não é possível!
A mídia divulgou que o proprietário da Oliveira & Santana, atual Fenix, foi preso e liberado ao pagar fiança de R$ 40.000,00. Os trabalhadores voltaram para seus estados, sem a devida remuneração. Quem vai se responsabilizar? Quem vai ser punido?
O marketing traz bons resultados. Quando acessadas em sites e/ou visitadas in loco, as vinícolas destacam seu trabalho sustentável e social relativos ao meio ambiente e às comunidades, respectivamente, uma maravilha! Será que teremos que checar todos esses detalhes para termos certeza da responsabilidade desses produtores? Nosso papel como consumidores é saber separar o joio do trigo? Penso que sim! Não podemos nos calar diante do malfeito. Espero que se faça justiça. É muito importante que todos os fatos aqui narrados sejam devida e legalmente analisados e todos os envolvidos sejam punidos. E os trabalhadores sejam ressarcidos.
É sabido que o trabalho análogo à escravidão inclusive o infantil nos cerca, mundialmente, em ilimitados setores, e, como repudiar? Temos que estar atentos, e não consumir tais produtos.
Eu acredito no ser humano, eu acredito nos pequenos produtores, mas acredito também na indústria, que fomenta a economia. Fiquemos atentos! Não podemos admitir tal retrocesso, em qualquer âmbito de trabalho.
Fica aqui meu desabafo.
Até a próxima taça, com boas notícias do mundo do vinho!
